Somos assim, mesmo cortadas e aparentemente sem vida, nossas raízes estão trabalhando para que possamos renascer. O renascimento pede paciência, o broto só vingou depois de muito trabalho das raízes. Lento, no seu tempo. O tempo de espera é bom, a gente vê que a corrida pela qual estávamos empenhados não faz sentido. A busca é sempre por si mesma. Ser o seu potencial criativo. Sentir a existência de maneira leve. Ignorar o que não é essencial. Nascemos muitas vezes. A cada nascimento permita-se ser fiel à sua verdade. Sinta o seu coração pulsar. Sem pressa! A vida não é nada do que te disseram e nada do que você aprendeu todos esses anos. A vida é mais, Deus é mais e você preso a desejos e medos que nem são seus. Ouça seu coração. Em você reside todas as respostas que procuras.
Aline Rafaela Lelis
Escrito em 13 de novembro de 2019.
Quando a minha alma se afastou de mim, perdi-me em labirintos de pensamentos confusos e sem fim. Meu corpo se enfraqueceu e todo o senso de proteção que eu tinha se foi. Passei a viver desprotegida como se eu fosse uma tartaruga sem casco, que diante do perigo, não pudesse se esconder. Fiquei durante anos assim, nua, enfrentando o inverno gelado despida de dignidade.
Para os xamãs, quando isso acontece, quer dizer que a nossa alma tomou um susto. E era exatamente assim que eu me sentia, assustada, porém, sem reação.
No caminho encontrei muitas pessoas dispostas a sangrar as feridas ainda expostas. E elas cutucaram cada lesão num tom sádico, sem compaixão ou misericórdia. É incrível como as pessoas diante da fraqueza das outras, constroem suas fortalezas. Pura vaidade, e de certa maneira a pior fraqueza de todas.
Encontrar a minha alma-essência, que hoje não está mais perdida, mas sim escondida, é o que tem lentamente me movimentado. Sinto o meu coração bater de modo automático, assim como a minha respiração, que inspira qualquer coisa parecida com ar. Os meus olhos há muito tempo não veem nada de novo. Meu tato já não sabe mais o que é desejo, ou prazer, vive com medo do porvir. Estou em estado de flor, aquela florzinha murcha que precisa de cuidados para não morrer.
Todos nós viemos ao mundo despreparados. Para o espetáculo que é a vida não há ensaio. A peça se desenrola sem uma passada de roteiro breve, quando nascemos, já caímos no palco como personagens principais, diante de uma plateia que nos aguarda ansiosas.
Culpei-me muito por não saber como reagir diante de um público desconhecido. Eu sorria sem graça me perguntando lá no fundo se havia agradado aqueles expectadores.
Agradar é um verbo perigoso. Quando era criança fui ensinada a não dizer o que eu penso para agradar as pessoas. Aprendi também, que mulheres devem ser polidas, bem comportadas, cozinhar bem e principalmente agradar o sexo oposto.
Na infância a gente aprende subliminarmente tanta coisa inútil! Nessa época já começamos a nos distanciar de nós para tornarmos quem não somos. Eu resisti muito, resisti anos para não me perder, mas chegou um tempo que a minha fé era pouca, e eu fiquei feito louca, perdida na multidão. Hoje em dia penso que sou digna de sentir meu coração vivo novamente. Sou merecedora de amor e de pessoas caridosas e cheias de luz à minha volta.
Para me encontrar não meço esforços. Distancio-me aos poucos de tudo aquilo que não sou. Gradativamente consigo adentrar a minha floresta sagrada. E é lá o lugar de reencontros. Topar de frente comigo mesma é questão de tempo. E, quando isso acontecer, quero abraçar-me demoradamente e tocar cada pedacinho de mim, me sentir amada e desejada. Feliz e lisonjeada com tanta auto dedicação.
Há pessoas que também se sentem flores, mas ficam à mercê dos outros para serem regadas e cuidadas. Eu estou cuidando do meu jardim já faz um tempo, observo tranquila e orgulhosa cada sementinha que cresce lenta. Sigo paciente (na maioria das vezes), certa de que não vai demorar para o meu jardim florir todo. Então, muitas flores irão me enfeitar, e meu perfume vai se espalhar pelos quatro cantos. Perfume de dor e pranto, mas também perfume superação, de amor próprio, de amadurecimento e de felicidade transbordante.
De tempos em tempos, precisamos parar para cuidar de nós mesmos e nos ver mais como terra, como água, como luz e como vento. Deixar que os mistérios tomem conta do coração e entender que viver ultrapassa todo o entendimento.
Aline Rafaela
Eu não escondo as minhas fraquezas, e muito menos tenho medo de expor as minhas fragilidades. Não suporto gente que se faz forte fingindo fortaleza. Mas adoro pessoas que não mascaram suas imperfeições, acredito que isso é prova de força inigualável. Quando alguém realmente é, ela não faz força para ser.
Aline Rafaela Lelis
O homem que diz dou. Não dá! Porque quem dá mesmo. Não diz! O homem que diz vou. Não vai! Porque quando foi. Já não quis! O homem que diz sou. Não é! Porque quem é mesmo. Não sou! O homem que diz tou. Não tá. Porque ninguém tá Quando quer!
(Canto de Ossanha. Baden Powell / Vinícius de Moraes).
jump your bones
by Leslie Kirchhoff
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Carta Capital: O que é ser mulher negra pra você? Luedji Luna: Sabe aquele conceito que a gente aprende na escola na aula de Biologia? Que existem seres vivos, os autotróficos, capazes de produzir o próprio alimento, como as plantas, por exemplo. Para mim, ser mulher negra é isso: ter a capacidade de tirar força de si mesma, de ser sua própria fonte de energia, de cura e de amor. É solitário, mas é potente também...
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/luedji-luna-do-cabula-para-o-mundo
O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes.
Cora Coralina
Se você morresse para o passado, se morresse para cada minuto, você seria uma pessoa que está viva por completo, porque um indivíduo vivo é aquele que está cheio de mortes.
MELLO, Anthony de. Despertando para o Eu. São Paulo: Siliciano, 1991. p.170
(...) "Não acho que Deus saiba quem nós somos. Acho que Ele gostaria de nós se nos conhecesse, mas não acho que Ele conheça a gente.
Mas Ele fez a gente, Dona. Não?
Fez. Mas fez o rabo do pavão também. Isso deve ter sido mais difícil.
Ah, mas, Dona, a gente canta e fala. Pavão não.
A gente precisa. Pavão não. O que mais a gente tem?
Ideias. Mãos para fazer as coisas.
Tudo muito bem. Mas essa é a coisa nossa. Não de Deus. Ele está fazendo alguma outra coisa no mundo. Nós não estamos na cabeça Dele.
O que Ele está fazendo então, se não está cuidando da gente?
Deus sabe.
E explodiram em risada, como meninas pequenas escondidas atrás do estábulo adorando o perigo dessa conversa". (...)
MORRISON, Toni. Compaixão. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. pp. 77-78.
Estou vivendo de poesia, daquelas que falam de amor e de dor, daquelas que me lembram de ti. Poesias são como pão para mim, alimenta o que de mais profundo carrego no peito. Quase chego a lembrar da minha alma desnuda, antes de virar gente, antes de me perder na loucura de ser alguém na vida.
Estou vivendo de poesia meu amor, acompanhando a calma dos dias, as paisagens serranas, o vento que sopra frio aliviando o calor.
Estou vivendo de poesia, é tanta calma no coração que a minha pressão anda meio baixa. Como se meu chakra tivesse se alinhando ao ritmo do Eu sou. Estou ficando lenta e nunca fiz tanta coisa como nesse momento de lentidão. Também tenho aprendido a gratidão.
Estou vivendo de poesia, descobrindo meu ritmo, meu lugar, minhas raízes. Eu durmo despreocupada em plena tarde. Respeito meu tempo de maturar, se tu me visse assim, tu não ia acreditar na calma que carrego nos olhos, sabe todo aquele ódio? Deixei queimar nas ondas do mar sagrado.
Estou vivendo de poesia. Meu mundo hoje tem mais harmonia. Respeito meus processos, estou ficando cada dia mais ligada aos sinais, minhas mãos pedem por pincéis e tintas. A energia mais feminina da artista que habita em mim posso senti-la como uma criança que cheira a flor e se encanta. Agora tudo está num compasso perfeito de um mantra.
Tenho vivido de poesia, cada detalhe é motivo para agradecer, cada vivência é oportunidade para crescer. Sinto o doce da vida e também aprendi a saborear o amargo. Hoje, o gosto amargo não significa estrago.
SÓ, estou plena! Vivendo de poesia. A poesia do meu corpo livre, da minha cabeça cheia de saúde. Dos anjos que sinto a minha volta. Da prosperidade que bate a minha porta.
A poesia do que eu vivo porque estou aprendendo a viver a vida assim. Vivendo feito papel ao vento, feito rio que segue lento contornando as margens no seu tempo, no seu ritmo, o Rio sabe que alcança o mar.
Nessa poesia que vivo, como é bom escrever serena, sob a luz de um celular, esperando o sono chegar para quando amanhecer ir trabalhar.
E no meu coração só luz!
Aline Rafaela Lelis