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Denilsonfeitosa - Blog Posts

1 year ago
Fevereiro

Fevereiro

Escute só,

isto é muito sério.

Anda, escuta que isso é sério!

O mundo está tremendamente esquisito.

Há dez anos atrás o Leon me disse

que existe uma rachadura em tudo

e que é assim que a luz entra,

não sei se entendi.

Você percebe alguma coisa

da mistura entre falhas e iluminação?

Aliás, me diga,

você percebe alguma coisa de carpintaria?

Você sabe por que foi que

meteram um boi naquele estábulo

ao invés de um pequeno rinoceronte?

Deve ter tido alguma coisa a ver com a geografia.

Ou com os felizmente

insolucionáveis mistérios

que só podem vir do misticismo asiático.

Um boi é um bicho tão … inexplicável.

Ainda bem!

O amor é um animal tão mutante,

com tantas divisões possíveis.

Lembra daqueles termômetros

que usávamos na boca

quando éramos pequenininhos?

Lembra da queda deles no chão?

Então!

Acho que o amor quando aparece

é em tudo semelhante

à forma física do mercúrio no mundo.

Quando o vidro do termômetro se quebra,

o elemento químico se espalha

e então ele fica se dividindo

pelos salões de todas as festas.

Mercúrio se multiplicando.

Acho que deve ser isso

uma das cinco mil explicações possíveis

para o amor.

Ah é! Eu gosto de você!

A luz entrou torta

por nós a dentro, mas, olha,

eu gosto de você!

A luz do verão passado

quebrou o vidro da melancolia

e agora ela fica se expandindo

pelas ruas todas,

desde aquele outro lado do Sol

até esse tremendo agora.

Hoje ainda faz bastante frio.

As cinzas ainda não aterraram

sobre as cabeças disfarçadas.

Tem gente batucando

suor e cerveja

pelas ruas da nossa cidade sul.

E na cidade norte,

há ondas de sete metros

tentando acertar no terceiro olho

dos rapazinhos disfarçados de cowboys.

[suspiro]

O mestre ainda não veio

decretar o começo da abstenção

e ... olha,

a luz ainda está conosco.

Sim,

o mundo está absurdamente esquisito.

Já ninguém confia

nas imposições dos perfeitos.

A esta hora na terra é um tanto carnaval,

um tanto conspiração,

um tanto medo.

Metade fé,

metade folia,

metade desespero.

E, provavelmente,

a esta hora,

uma metade do mundo está vencendo

e a outra metade dormindo.

Há ainda outra metade

limpando as armas,

outra limpando o pó das flores.

Mas, por causa do que me ensinou o místico,

eu acredito que agora exista alguém

profundamente acordado.

Alguém que esteja vivendo

entre o intervalo tênue

entre o sonho e a agilidade.

Suponho que ele saiba perfeitamente

que este começo de século

será nosso batismo do voo

para nossa persistência no amor.

João molhou a testa de Emanoel.

Os gritos das ruas

molham as testas de nossos corações.

De que lado você está,

eu não me importo!

De que garfo você come?

de que copo você bebe?

que posto certo você escolhe?

qual é seu orixá?

seu partido?

sua altura?

de qual de suas cicatrizes você cuida?

que pássaro você prefere?

quem é seu pai?

qual é seu samba?

Pinot noir ou Chardonay?

que protetor você usa?

qual é sua pele?

seu perfume?

qual político?

quantos amores você sonha?

em que Fernando?

em que Ofélia?

em que cinema?

em que bandeira?

em que cabelo você mora?

Qual dos túneis de Copacabana?

Reze para seus santos quando atravessar.

É… é impossível

viver no país de Deus.

Isso eu te dou de barato.

Mas, atravessar o gramado de Deus em bicicleta,

isso não é impossível, não.

Escuta, isso é sério!

Andamos crescendo juntos,

distraidamente.

As árvores crescem conosco.

Nossa pele se estende,

nosso entendimento teso, também!

O século cresce conosco.

O amor pelas ventas da cara do mundo,

também!

Quanto a um pra um

entre nós dois,

isso logo se vê.

Não sei nada sobre a paixão,

suspeito que você também não.

Mas, começo a entender

que o compasso da fé

está mudando a passos largos.

Dois pra lá e dois pra cá.

Portanto, escute.

Isto é muito serio!

Isto é uma proposta aos trinta anos.

Agora que o mercúrio

assumiu sua posição certa,

vem comigo achar

o meu trono mágico

entre a folhagem.

E, no caminho até lá,

vem dançar comigo, vem!

Matilde Campilho*


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